quarta-feira, 15 de junho de 2016

Matheus,

Fica aquele livro do Huizinga
que eu nunca terminei de ler
que ia me ajudar a resolver
todo esse caos conhecimento
revólver pólvora acadêmico
tentando saber e sobreviver
Ali entre os corredores
censurávamos nossos olhares
Ali entre os corredores
fumávamos um cigarro
ou cigarros.
Sempre te observava muito chapada
e sempre censurava minhas vontades
talvez as suas
Eu sempre sorria de lado
fumando calada sem saber
sentindo uma conexão esquisita
que eu censurava pelo medo
Daqueles corredores.
Assim eu me impedia de viver
qualquer romance e manter
o pão de cada dia e a cabeça no lugar
E agora eu olho aquele livro
todo empoeirado do Huizinga
sabendo que você morreu
e que não vamos viajar
nem fumar um no jardim
ou mesmo trocar uma ideia
fumar um cigarro
realizar no trago
aquele beijo que talvez
aqueles mesmos corredores
sempre censuravam
talvez pelo medo de ferir alguém
ou me ferir.
Agora só fica o medo de nada
porque enquanto eu sumia
enfiada plenamente no teatro
eu me afogava e desabafava
no seu cigarro pela última vez.
E pela última vez conversamos
sem eu saber te contando planos
todo aquele caos político rodando
E todos aqueles panos e papos
e coisas que você me ensinou
em poucas salas, falas
naqueles mesmos corredores
que criavam barreira e caos
dentro de mim
Não serão mais
do que aquele outono
medieval e triste
no canto da estante.
Não poderá ser mais
do que aquele nosso
último cigarro.
Aquele livro que você emprestou
Para eu ler um capítulo sobre morte
que eu talvez não consiga nunca mais ler.