quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Foda-se, deixa estar

Foda-se, deixe estar.
Acho até que gosto desse mistério
Desse envolvimento livre e som
Tom e vontade de compor calado
Desse calor despertado. Do silêncio

A noite fria de Junho e meias
Aquecendo as canelas roçando
Piras inesquecíveis de fogueiras
Cantarolar e tocar já é bom e pronto

Verdade é o gosto mistério das letras
Tão carregadas desses ensaios sofás
Esquentando seus dedos e canelas
Cigarros, cafés e pontas secretas.
Fodas pela sala de estar.

(13/06/2016)

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

CORTAM AS PERNAS DO POVO

Tudo é nada de novo
Silêncio caindo poço
Caos pós fogo e o resto
Dos braços correntes
Caminhando pela gente
Sem lutar o povo
Engole o mesmo osso
Sem o caminhar próprio
da nossa mente

COZINHA PSICODÉLICA JANIS MARIA JOPLIN ARÊAS E CIA

Aquela vibe transcendental meio campo de santana grama e lama
depois daquela noite passada de fogueira txai índio ashinikando a cura
e são joão xangô menino no metrô e na trovoada tocando os doces bárbaros
adocicando os vagões lotados de corações e pessoas

Virando a noite e pela manhã de luz, luar e grama
maconha e campo de santana abrindo a chama
Janis Joplin cantarolando Maria cozinha e amor

Eu imaginava se o woodstock era tão diferente
E a tropicália assim tão doce ou tão distante
Lembrando como era aquele tempo, do golpe 2016
Imaginava a gente ali na escola ocupada

1 mês ou uns quarenta anos atrás
ouvindo ali piscianamente aquela voz
sit there, count on your little fingers
my unhappy little girl blue

Naquele junho velho e cinza
Frio Rio de Janeiro diferente
dos raios quentes do início solar
Que Oxalá vem transformar

Mas mesmo assim de lá pra cá
o que uma garota azul triste cantou
ninguém lutando ainda transformou
Peço que o sol venha transmutar

BICHA, BICHO, EU BIXA NA CIDADE

Foram dias livres, dias leves, onde a forma das coisas naturalmente
aparecia ali desistente, sendo irônico ouvir a problematização teórica
da formação da burguesia, como um discurso que eu bem devia dominar

Não domino pela mesma ausência instável de moedas que financiam discurso
Sendo a rua mangueante meu ônibus e motor, mambembe ou historiador
passo apressada e levando luz, passo o corredor, mas devendo a conta de luz

Queria era largar o motor sociedade e ser bicho ali outra vez
onde sem precisar de Marx ou Thoureau o capital não existiria mais
voltando aquela velha paz de uma comida que brota assim do chão

Sol e Fada Mulher

Tua fragilidade me assusta
me da uma vontade calma
de abraçar e esquecer a enguia
que sem cor me engolia
para lavar o rancor 
do lado esquerdo da alma


(09/05/2016 - ocupação)

PULSOS

Aqueles olhos avulsos
Falando pelo espaço
Explicam o impulso
Silenciosos cacos
Cortados dentro

Do fio dos pulsos

Concha

Carangueijo andando para trás
Vê se desfaz essa couraça
Não se protege não
Não quero te possuir
Só quero sorrir
Embalada no seu violão

(V.N)

Mel

Você abriu uma cascata de arte
Dentro de meu íntimo céu e parte
Roubando o marte sorriso e mel
Tão forte quanto a picada da abelha
Florescendo um poema que você esqueceu

(V.N)

[LIBRA]

[LIBRA]
Nossas balanças se cruzaram
Equilíbrio místico, interna criança
Idosas bruxas, corvos e corujas
Tempo além da lembrança.


MULHER DIABO

MULHER DIABO
Sou mulher diabo
Sujeira de rato
Desejo infinito
Jogado no ralo
Porque te embalo
De medo e saudade
Pois pela liberdade
Não me calo.

A Lua, as Estrelas e o Mar

A Lua, as Estrelas e o Mar
Os portais helênicos dos arcos profanos
Do telles às barcas são portas de encontro
Vejo a moça Lua brilha luar, vem Luna e Marina
Aquela menina capricorniana, feita de terra e mar

As estrelas de meu caminho, mundano sozinho a negar
Convites helênicos de suas poesias, desenhos e mancias
A me embriagar na flor da ambrosia, magias do ar

Meu cantarolar, de poucos instantes, mulheres bacantes
A admirar um mar feminista, eu malabarista, fugindo dos homens
Por tempo e salivas, beijando as feridas, tocando o seu mar


FESTEJOS DE BACO

FESTEJOS DE BACO
As flores astrais nos ouvidos
A caminho dos festejos e ritos
Devotos de Baco, secos e molhadas
Corações de fogo, de saias e miçangas
Proteções profanas dos filhos do teatro
Sozinha às onze horas, por ruas perigosas
Ouço a voz melodiosa e amarela das ciganas
Que por vielas humanas traz carona e caravanas
Noite das bacantes e profanas, todas as filhas devotas

(Festa da ETET Martins Penna, Abril de 2016)

Dançarina do Fogo


Lembro de quando te desenhava
Pelo conto lápis do canto do olho
Caíam aqueles fios densos e negros
Nos ombros desenhavam seu fogo

Chama e guerra de seus olhos
Amendoados como um oriente
Seu coração é consciente
Percebendo os laços de fogo

Terras Novas, Águas Velhas, Terceiro de Vênus

Terras Novas, Águas Velhas, Terceiro de Vênus
Carangueijo lânguido, leão de águas como as dela
Seus incensos queimam a troca de nós oceanos
Sexo aquático que escondíamos pelos anos
Pois seu olhar assustava minha sutil esfera

Como a maré escorpiana, foges o menino luar
Pois tanto medo de me machucar teme iludir
eu por aí a me divertir sem medo de me deleitar.

(Abril de 2016, V.N)

EVA MAÇÃ

Eva Maçã
Lembro-me também de você, mulher e corvo
Feitiçaria cigana, libertina moderna e profana
Lembrando tantas vidas que as ancas ainda doem
Hoje sois como uma irmã, de alma e de sombra
Banhando nas águas da cachoeira e montanha
Teu corpo a meu lado se retraindo na música
Querida pela minha alma, libriana livre e libertina
Que nos sonhos me invade a ferida de desejar-te tanto
Sei que lá nos vemos, sei que esqueceremos
do que em outros tempos fomos pela velha sina
Mas em nenhum tempo, triângulo de ervas a dentro
Sem medo do agora e do aqui, sei que por inteiro
Por nenhuma vida esqueci seu gosto e seu cheiro
Pois quando cigana, galopei anos como teu cavaleiro
Quando libertina fui teu cortesão, amor e escudeiro
E quando feiticeira te levei pela mão, pelos moinhos
Levando-te  por todos os caminhos do povo pequeno
Quase provaste aquele veneno, que mel para mim
Acorrenta-te sem fim àquele meu mundo de elementos
Lembro teus olhos negros mirando o abismo da realidade
Sinto e vejo estas memórias invisíveis
que aqui seguem indizíveis como irmã
Pois sei que a sua lua terra é um pouco fria
E fujo pela ventania da sua eva maçã.


Centauro Cartomante

Que todos os seres místicos que cruzaram meu caminho estejam escritos
Lembro então do segundo fogo de vênus, centauro tocando um violino
Para que eu chore as canções velando a morte de Bowie pelos sete ventos
Cantigas medievais e lamentos de poucos dias paqueteando seus ritos. 


Sátiro do Sol


Pergunto-me por que esquinas mais do universo nos esbarraremos?
Correndo com nossos papeis interpretando aquela cena do acaso
Que é encontrar alguém. Mesmo quieto e absorto no magnetismo.
Real que ali deixado, nunca deixo de vibrar neste seu musical silêncio
Que mesmo quando calados, aquele milissegundos de troca de olhar
Queima quando prontamente em pontas pelo jardim chega a me salvar
Tocando o universo repentino e sem fim de provar o som de seus dedos


CAOSESFERA


Demônios que moram na esquina
Do canto de meu olho e fogem
Quando antecipo seus passos

De quina pintada e fotografia.

Ode Saudosa à Costa do Mar

Solteira e livre, sozinha a lua dançando nua no Rio de Janeiro
Mapa gostoso e cruel de pessoas intensas que chegam e partem
Barca portal na praça número XV para Niterói além mar das bruxas
Envolvida pelo nó complexo e simples, aprisionada pela liberdade
A bruxa de câncer e cartas, beijava meus lábios com calma profunda
A intensidade das águas, o leão e seu fogo dança labaredas e inunda
Suas silhuetas de gestos e sorrisos, saias de cigana, altares e livros
Fizeram-me esquecer do perigo, largando meu vestido, azul para voltar
Naquele universo escondido de seu quarto sereno e seus olhos de mar
Mas sei que a cigana que é couraça sua deseja apenas uma aventura
E há muitas constelações para te mostrar ainda assim pela loucura
Que é a lucidez e magia de estar ao seu lado, com ou sem a pele crua

(Para N.C)

Madeixas de espuma

Madeixas de espuma
A fome fala grave como uma voz dolorosa
Que grita intensa e consome toda a pólvora
Apagando o fogo das forças sem alimento, a alma chora
Mudo-me para dentro de um novo mergulho sem medo da chegada hora
De morrer no intento de sonhar no palco sem medo da morte que é divina porta~
Apaixono-me pelas esquinas, olhares que se perdem
Suavizam doces águas profundas lavando leve
O sal de Netuno, sêmen e espuma,
 fertilizada no útero do mar

madeixa de espuma

A Sepente, O Cavalo, A Coruja e o Corvo

A Sepente, O Cavalo, A Coruja e o Corvo
A Mulher que ouvia Joni Mitchell e Lisa Thiel por toda a noite a meu lado
Visitando seu lar secreto, canceriana doce e singela, guerreira e donzela
Sua magia é um doce que tem gosto umedecido e terno feminino de luar

Queria sim te ninar como uma criança, recitando cânticos, movendo danças
Ouvindo o mel água de nossas vozes doces vibrando a força de outras eras
Avançando nossas guerras para as Deusas e para as feras como boas devotas

Ah se os moços de câncer fossem como essas doces e selvagens filhas da lua
Mas a água é um mistério que assim pela fruta pele caminha e se transmuta
No fundo azul marinho de estrelas e vinhos, dos nossos antigos céus interiores

Queria provar-te o céu da boca, te levar ao céu das moças bebendo seu néctar
Mas meu maior desgosto é que ficamos nós duas nunca nuas e atrás de moços
Então renega os peixes pelo aquariano, sem cair o pano das ciganas a galopar

Queria ouvi-la cantar, chamo seu tambor, venusiana sexta que vem amanhã
Queria vê-la sorrir, aconchegar a maçã do rosto, provar desse gosto outra vez
Talvez até sentir que nosso corpo se permite o mergulho sem medo de cair.

(N.C)

Cachoeira, Argila e Mel

Cachoeira, Argila e Mel


Água de Cachoeira pelo meu corpo nu
Invisível Separação entre eu e a montanha
O barro e o mel sobre a pela nas águas de Oxum
O prazer sobre água gelada cortante que é a vida
Sátiros de fogo guiam pelas rotas da floresta
Vejo um filho de áries com um gavião sobre os ombros
Seus olhos fogo são um poço de perigo que conheço bem
Enquanto eu abdicaria de todos os sátiros se ela quisesse
Mas sei que a guerreira que cavalga a meu lado conhece
O olhar aventureiro de alma cigana que serpenteia os galopes
Sei que sem permanência são as intensidades dos poucos dias
Que junto dela troco as cartas e as dores, os beijos e as flores
Os amores queimando sem medo no fogo do altar. 



 (31/03/2016 - N.C)