quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

VELHO TRANSEUNTE

VELHO TRANSEUNTE

Bicicletas, carros, ônibus
Em tráfego e maresia
O centro é a poesia
De cacofonia orquestrada

Carros e pedestres sem estrada
Em buzinas dissonantes
Passos desfigurantes
Em tráfegos exaltados
Rostos se quer olham ao lado

Há sempre um perambulante escravo
Escravizado por se perder sem sorriso
Há sempre um perdido em gritos
Constantemente engolidos e desgastados

Ninguém vê o senhor da calçada
De olhos cansados que faltam calma
Ninguém ouve sua mágoa
Que de esmolas se sente farto

Muitas vezes o ouvir basta ao senhor
Muitas vezes o sorrir afasta a dor
Matando seu incansável estrago

Pois o enxergar de sua luta,
que é tão raro quanto o mais sublime pranto, 
é enfim um manto,
a maior gorjeta por sua labuta.



ARTISTAS DE RUA

ARTISTAS DE RUA

Três cigarros em desespero
Enfrentando um novo chão
Um novo erro, um outro apego

Sem grana no bolso
A perdida em Perdizes
Agora perdida em Botafogo
Terras de outros Deuses em qualquer jogo

Todo dia um tumulto
Um alvoroço de passos sem alma
A arte realmente salva
Reunindo em calçada
Pedestres distantes em qualquer rumo

E eu sem sons quase sumo
Desapegada em um outro tom
Em busca de um novo som
Da música de ruas pelo mundo

O som que reúne qualquer vagabundo
Qualquer magnata ou lutador
Qualquer transeunte ou trabalhador
Em música a salvar qualquer navegador

O papel real no case é o que paga
mas em real palavra, nenhum papel se compara
A  moeda e sorriso de um mendigo sofredor
Doada na calçada de pedra, arrancando seu riso
Dando luz aos olhos de um músico sonhador

Sobre Maldições em Dezembro


PALAVRAS EM VÃO VOLTAM

Atônita é a palavra
Sem reação, sem alma, sem calma
Sem palavra, sem inspiração

Em dias como este sem lástimas
Sem lágrimas, sem mais do que o esperado
Virás a perecer pelo pecado ingrato
Como silenciosa eu adoeço

Sinto-me sem gosto, sem rosto
Em essência na ausência do que outrora costumara sentir
É duro sorrir quando na ausência do senso
Só penso no entanto que me sinto cair

Por que fizeste algo tão vil ao meu querer?
Agora só nos resta perecer
e eu tão friamente mesurei
cada palavra com a mesma falta

Amaldiçoar-te-ei até o fim de sua penosa estrada
Desejando um troco do mundo pela primeira vez
Por juras egoístas soltas no escuro, por todo o estrago que fez

E sobre a mesma rocha do injúrio
Lembrarei das palavras expostas pelo outro,
A quem feri por tão pouco
Pelo infame e odioso, falso e adorável insulto

Não fujo de um erro sujo
Tão pouco aceito que não pagues pelo júbilo
Pela tua culpa te aprisiono em cárceres
Que somente muito longe quiçá compreenderás
Somente quando descobrires o peso
E lidar o erro, com a sombra que o traz

Esta sombra penosa carregarás
E em dor desastrosa sucumbirás
Livre só serás ao simultâneo libertar
Quando em essência eu puder me perdoar
Todo o mal causado em mentira voraz

Caso contrário, em valor arbitrário cairás
A trépida sombra te engolirás em descaso
levando cada pedaço que roubas-te
de meu peito inflamado

Todo o estrago que ainda derramarás
Antes do ato, nele sucumbirás
Se não souberes corrigir, por certo só te restas ruir
Se não desfizeres em intento
O que nem mesmo o tempo deixou para trás.