quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

CHEIRO


Seu cheiro em lençóis
congelou mil sóis
quando amanheci só
soprando sujeira em pó
desabando em nós


Foi-se logo embora
esquecendo o cheiro
que engavetado no agora
despiu meu medo
trancado do lado de fora


Preencheu meu corpo
jogando o receio fora
sem secar lavou meu todo
e foi sem fechar a porta

VOLTE

Volte para montanha menino do mar
pois a terra não quer me entregar
o ouro de sua entranha


Volte para a fada estranha
que a milênios silenciosos
acompanha seu caminhar


Venha me encontrar
no topo de nossa montanha
por trilhas secretas em campanha
que o sábio Hermes nos veio iniciar


Venha aos ventos de meu lar
pois sozinha e longe do bardo
volto a vagar lentamente em fardo
ansiando pelos olhos onde vi o mar.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

ÁGUA LUA

Aqueles pedaços de água dela
Caíam pelos olhos
Escorriam pela perna
Suando os poros

Abriu-se em poços
Sem medo de doar
A água para lavar
Os dois corpos

Sem medo do vulgar
Em carne crua
Doando a lua
Que é seu lugar

Aqueles pedaços
De água a queimar
os cacos usados
Jorrado em luar

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

ADEUS

Estou doente, estou só, estou morta
Dependente independente
Acende a chama entorpecente
Quero sair desta cidade torta
Quero cheirar o vapor
De roda queimando na estrada
Quero ir embora deste inferno
Desta cidade congestionada
Libertar-me deste tempo incerto
Chutar e entrar sem olhar para trás da porta

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

SANTA TERESA

Caminho pelos azulejos coloridos
Entre passos exauridos e laços amarelos
Nas casas mais antigas e sorrisos singelos
De moços e moças e passos distraídos

A praça, o cinema, o amor, a poesia
Os trilhos que guiam nostalgia
A brisa de lar e de calma
Que em boemia desperta a alma

Rodando a vida em incerteza
Dos altos degraus até a canção
Degustando cheiro e experimentação
De canto a canto em Santa Teresa

CHOVEU


Estava chovendo
Sem cachoeira
Pelo lado de dentro
A água da ribanceira
Em meio à mata
Rompeu a tronqueira
E eu nadei
Entre fadas e tragos
E doses de pigarros
Sentindo teu cheiro
Que ficou trancado
Pelo lado de dentro
Do meu quarto
Em meio ao caos e asfalto
Rompeu-me ao meio
E sem efeito
Na beira da cachoeira
De água carne
Chovi por dentro

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

PROA


O bardo pirata que almeja velejar
Com seu navio em alto mar
Ainda sorri e segue a cortejar
Aquela moça montanhesca
Que na pedra fresca
Ainda não sabe

Nadar.

Ele aprende a velejar, 
ela aprende a nadar
em outros rumos
em proa e alto mar.

O BARDO

Um lenhador havia trancafiado o coração
Da moça enfeitiçada por sua dor e solidão
Impedindo-a de sentir mais que o vazio
Deixado por ele ao sair somente o frio
Amaldiçoada pelo seu amor congelado

Eis que em tempo de batalha após tanta amargura
Velejando de outros mares na colina surge o bardo
Com trovão e montanha que em som remove o fardo
Velejando de longe com falcões, ervas, bandolim e cura

A entrelaçar na montanha magia e canção de batalha
Evocando guerras irlandesas em terra, fúria e canto
Eliminando da dama da floresta o tortuoso pranto
Curando a dor com a simplicidade da terra sem falha

Eis que em caravanas o bardo então retorna ao mar
Prometendo voltar à montanha e busca-la em verão
E mais forte a dama da floresta retorna ao seu lar
Volta a sua caverna na montanha, reclusa em solidão

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

TEMPESTADE

Deixe o corvo anunciar a tempestade
Traz em suas penas o trovão
Pra queimar no outro mundo
A vontade de me aterrar em solidão

Deixe o corvo anunciar a tempestade
Bradando em guerra o ano de força
Arrancando esta suja saudade
Queimando a corda que me joga em forca

Deixe o corvo anunciar a tempestade
Levando-me embora deste mundo
Parando a dor mórbida em segundo
Levando a alma de avançada idade