sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O CORVO

https://soundcloud.com/fernanda-lyra-1/o-corvo-fernanda-lyra-pedro/

(No improviso de uma canção, eis que surge esta letra).



Um dia, um homem
com um chapéu de palha e um corvo nos ombros
Sorriu, mas não conseguia rir

O Corvo pode agourar
O corvo voando pelo luar
O soturno caminhar

Eu caminho sozinho e a estrada parece falar
Eu não tenho destino, eu não tenho lugar
Vou encostar sobre a pedra, colocar um chapéu
Apagar a ideia

Eu vi um corvo levar a morte de um lar ao alvorecer
Eu vi um bebê cair e morrer, sem respirar, pouco antes de entender
Eu vi nesse lugar um corvo levar, gente além de mim, de você
Levar além de um portão, mas ninguém conseguia ver.

Encostado no chão, eu vi ele levar, eu vivi em minha solidão
Na morada de um sem lar, sem entrada para além do portão

"O velho de olhos, olhos virados e chapéu de palha"

Sem saber se estou morto, me encosto abaixo das asas do corvo
Nas asas do corvo que carrega o morto, que transforma o corpo,
Muito além do corvo, assim voa o corvo, assim voa o corvo,
assim leva o corpo, a leva do porto, a leva do porto.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O SÁTIRO



Dentes-de-leão fantasiam
O caminho sem chão
A madrugada dos ecos
da rua em meio-fio
Caminhando em trilha de rio
Em gritos e assovios

Você tirou os óculos
Fitou meus olhos
Fitou os corpos
mortos, soltos
opacos, ocos

Como um Sátiro
tentando a moça
A sucumbir do paraíso
do soluço construído

A cair do afago e do riso
E voltar para a queda
Para o delírio escuro
Em seu universo escondido

Meu nome que nunca é dito
Sem o silêncio e solidão
De que tanto reclama.

Fujo, pois a tua trama
A solidão que lhe engana
Será sempre a única dama
A quem o sátiro realmente ama.

ÚLTIMO

O ÚLTIMO (TRAGO) NÃO

Livre e amarrotada
Sem braços que enlaçam
Sem laços que traçam
Um rastro ao nada
Um mastro em luz baixa

Sem olhares, em suor descamisado
Em fitares e mordidas incompletas

O peito que ainda dói enraizado
O grito que agora é libertado
O cigarro sutilmente tragado
O gosto do mesmo rum amargado

Pelo chão do banheiro
Pelo alto do mundo
O seu cheiro é insulto
Seu desejo exaltado

Os furos no peito, na meia arrastão
Afastados da multidão, sem voz ou violão
Meu beijo finalmente negado, nem mesmo roubado
Pelo velho mesmo modo afastado, deitado no chão
Em meu último, último trago
Em seu suor calado, aprendo finalmente e digo
Não.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Sólid(o ou N)ão.


Na cena um de um ato sem nome
Vivendo dentro de filmes
Dentro de perfumes
Desacordada
Deflorada

Esperando encontrar
No meio da madrugada
No meio do vazio

Alguém que me acorde
Alguém que não me conheça
Alguém que me espanque
Alguém que me mate
Até que eu amanheça
Alguém que me faça sentir algo
Algo que me faça esboçar uma expressão real
Algo que me falta.
Dor
Ódio

Esperança?
Escapada de meus olhos
Fundos
Vazios
Sem preenchimento
Fundos de olheiras e ausência de sonhos
Fugindo de uma força inexplicável da falta do que não sei dizer.

GOTAS


Gotas caem apenas uma vez
Gotas caem para afagar rostos
Para lavar pensamentos
Para dilacerar descontentamentos e despertar sorrisos

Gotas caem apenas uma vez
De nuvens carregadas demais por um ciclo
Cada uma delas por um motivo, em ritmo que se completa
Encerrando um interminável rito, um dia sem riso

Só queria que lhe despertasse me abraçar sem motivo
Só queria apagar o grito, não gritado por interminável odioso conflito

Gotas caem apenas outra vez, para umedecer as lágrimas que não caem
De tão costurado que está este falso sorriso.

sábado, 14 de setembro de 2013

RELATOS ANÔNIMOS DE AMOR E ILUSÃO


Ouço tua voz mansa que me cala
Quando meus pensamentos inquietos
Atordoam a mente, que ininterruptamente fala

Balançando, na insegurança sutil e hostil
Vivendo na ilusão de um dia feliz, de um amor febril
Doendo no dia de acordar, minha mente cansa atada em um nó
Sabendo que em um momento há de esvair, e novamente eu é que fico só

Não sei bem aonde ir, não sei bem o que é melhor
Não desejo possuir, não me importo de estar só,
Mas jamais irei sorrir por depois de me entregar
Prontamente volto a ser um transeunte a caminhar

Sei, sabes, sabemos, que em nosso outro mundo ocultado
Existe algo maior em nossa carne, em alma e plano elevado
Algo além de todo cinza urbano, deste plano, inferno ingrato
Mas se teu amor é anonimato,  o meu de novo cai em temores

Já que o peso de outras dores, insiste em me derrubar
Volto a correr, volto a me perder, volto a me encontrar
Sozinha ouvindo tua canção, abraço minha solidão
Lembrando doce de nosso amor na escuridão

Me perguntando se o que vivo é real ou ilusão.  

terça-feira, 10 de setembro de 2013

FLOR DE LIS



Um dia uma menina de olhos curiosos
Me ensinou a fazer grandes bolhas de sabão
Viajando em um fusca amarelo, cantando com o coração
Me ensinando hinos, ensinando seus passos amorosos em canção


A infância revivida em seus ondulados loiros e esvoaçantes
Em seus sonhos flutuantes, rodopiando pelo ar
Nas lições de cada dia, no chá de avenca, na poesia
Flor de Lis a todos nós a muito veio ensinar

E eu que fadas quis a ela mostrar, no gramado, no luar
e ela mesmo sem notar, me coloca logo a refletir
Sobre como eu poderia mostrar uma fada e seus encantos
há alguém que sem saber, em sorriso e seu próprio brilhar
Assim como a pequena dourada é tão fada quanto.


terça-feira, 27 de agosto de 2013

OLHARES

          
Observei teus olhos baixos buscarem o chão
As rachaduras dos caminhos, os lixos mundanos sujando a calçada
Limpando o mundo por trás das lentes que não podiam tapar mais tua solidão
Os olhos jogados em cavernas ao chão, em busca de lágrimas que jamais caiem

Lembrei-me, da cor de todas as coisas que só dissemos no escuro
Quebrando um muro, um mundo inseguro de ambos os lados, medos que se esvaem
Todas as palavras ditas, engolidas em tragos, apenas com um luar fago na janela
Observando atentamente a nossas tolas máscaras, que uma a uma caiem

Cantei, pelo mal espalhado em teus ombros, pela dor de teus punhos ternamente cerrados
Sonhando apenas em livrar-te da dor que aperta os olhos, do cantar pousado e cansado
Observando novamente teus olhos sempre cálidos, caindo sempre  em vidro estilhaçado
Caindo sempre, em contradição de sons e estados, do pesar de sempre apedrejado

Voltei, pelo rumo antigo do horizonte, desabando em teus estágios
Acordando de um sonho doce e ofegante, de um olhar contagiante
Fitado em pálpebras fechadas, em noite calma, em teus pesares sábios

Observei novamente teus olhares, que em dia infante brilham como mata,
 Porém em dias tão errantes, com olhos metálicos em luz de prata,                                                      
Não se livram de instantes, de caírem viciantes, de pousarem na dor tão tenaz e calejada
De novo caindo, no erro constante, da dor sem crença em uma nova caminhada.




sexta-feira, 16 de agosto de 2013

CRESCIMENTO



Crescia amarrotada, sozinha atada em nós
Apertada em cós, sufocada pela etiqueta
Eis que Rodando na fortuna do parque a sós
Em madeira queimando encontro a folha seca

Borrando o amadurecimento pintado em nós
No gosto madeira, no sabor de noz 
A inocência no amor e a velhice algoz
O crescimento em conjunto trocando em brincadeira
Crescendo e tocando, em jazz, violão e voz 

Um dia fui idosa, trotando tuas desilusões com desprezo
Em alma rancorosa, de dor e cicatriz ardendo em medo
Mercantilisamos as dores, trocando platonismos
Dividimos os abismos, curando as palavras febris 
de nossas dores, de nosso ninho

Ouvindo o som em Castelinho, subindo a mata em cores que nos rodeia 
Apagando levemente a dolorosa ideia, de sempre estar sozinho

Eu que quis voar longe do ninho, querendo encontrar algo que não sei
Como arcano tolo caio no caminho, catando todos os cacos que deixei
No crescimento unido ao teu me desatino, vendo o que já encontrei
Que somos som, menina e anciã, que não preciso além da voz, de uma maçã
E mesmo em solidão me ponho sã, na companhia de quem chamo de irmã.

FILHO DO SOL(M)






O filho do sol rugiu em partida, para além deste monte

Subindo além de um Abril, voando além do horizonte
O filho do sol partiu, pois seu coração é nômade
É voraz e expansivo demais, a atravessar estrada e ponte

Viaja distante deste horizonte, no nascer de um sol além
Violando pelo bem, dos ares que encontra, das notas que tem
Viaja além desta ponta, desta porta para outra alvorada em ginseng
O filho do sol em sua caminhada, acordando com a luz inebriada
Pintando a luz que há além

Ferindo em cordas o som, que ilumina a luz em qualquer estrada
O filho do som em alvorada, colorindo a manhã opaca de polkas e fados
Degustando novos traços e tragos, de melodias mais vivas 
mais tintas e urucuns do que o senhor pode estar acostumado.

o filho da mata de oca em oca, que chega a disputa além da derrota, 
no lar do inimigo de outrora, que um dia desoca o lar 
daquele ancião que foi lhe dar o tom, e chega rugindo com seu ar jargão, 
unindo as estradas em ligadura de som.

O filho do som encontra o sol na alvorada
Na manhã viva n'outra estrada, o cidadão do mundo 
Dono do segundo, encontra o sol, clareia o fundo
Reunindo a luz de toda e qualquer caminhada

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

SEM NOME, SEM LAR, SEM RECHEIO




Cansada, exausta, perdida, fria
Já não conto mais os dias, horas ou meses
já não alivio o choro em nada, sem cigarros a fumar
Sem doses a afogar, sem memórias pra apagar

Friamente aprendi a te ocultar em um canto opaco da mente
Enquanto cuspo cegamente nos sinais que o mundo atenta em me doar
O que sou? Um trapo velho que se experimenta em dia frio,
que é jogado em um canto na nova alvorada, um tom perdido no vazio. 

Já sem relógio, me perdi em caminhada, trancafiada em meu próprio desespero,
desesperada ansiando pelo erro, sentindo o peito sofrido pela dor enraizada.
E eu que já levava tanto peso, amplificando o vão que parte desde o seio, 
me destruindo no anseio de encontrar a paz que a tanto foi deixada.

Só quero a luz que entre as árvores dançava, a flutuar tão leve em sutileza
Só quero a paz distante de toda a tristeza, que só é real com engrenagem desligada.
Leve-me embora deste caos, oh doce fada, tão afastada da cacofonia errante
De todo ódio infiltrado no instante, tão poluída a emoção que dói o peito
Aliviada em doce trago sem direito, seguindo errada para o vício em dor trancada.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

SOBRE SAUDADES E MAÇOS DE MARLBORO





E no teu corpo me encontrei de novo, em cada trago e tom roco
Enquanto negava desejar qualquer toque em meu peito oco
Meu amor que continua intacto, sentia a falta de teu cheiro
Sentir na pele que o desejo, ígneo e confuso, em nada adormeceu
Que das mordidas pela pele senti falta, de cada roçar da tua barba em meu corpo todo.

E como vênus novamente tratada, enquanto o medo que em receio gritava
Por instantes resolveu adormecer, depois do toque, me encontro extasiada
Sentindo a falta do abraço que se perdeu
Algo além de desejo em tua parte, fria e dissimulada
Desconversando o meu olhar que busca o teu

Sem me entreter ou me perder

Em gosto e gozo,
De derreter e arder em  prazer odioso

Sem saber se é alegria, ou se é sofrer
Se é grandioso, ou nostalgia de te ter
Eu quis sorrir, eu quis chorar, matando a sede em lábio teu
Em troca disso, no cigarro a me afundar, trago a palavra que em fumaça se perdeu
Te levantei, enquanto o via se jogar na sarjeta em álcool,  e te amei, mesmo ao me negar em vômito no asfalto, eu me odiei por ser apenas o teu trapo, por não poder te odiar por este ato.

No fim do dia em cemitério eu me mato, cantando em álcool nas cachaças pelas tumbas
Ao libertar-me renascendo deste ato, ao caminhar sozinha em brilho pela rua
E mesmo em dose de carícias que me insulta, só ao cantar eu me confesso o que já sei
Com tons no peito não esqueço de pensar, que ao me doar lancinante eu não errei


Pois mesmo quando friamente vens  negar,  sem duvidar só me entrego, pois amei.

5 de Agosto de 2013, Fernanda Lyra.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Prímulas e Perseidas

Prímulas e Perseidas 


Era uma noite de ventania, e uma madrugada pouco fria ao calor terno de fogueira e cantiga. O leito é a grama de ribanceira, o telhado é o lumiar de cada estrela em quedas de Perseu em chama N’outro lodo além da grama, dentre as folhas mais escuras, eis que uma luz intensa insiste em brilhar, e com flores na cabeça a dama que carrega uma criança em seu olhar volta e desperta, conseguindo observar cada detalhe que os mais sábios deixariam passar por perder os olhos infantes.
Eis que um lenhador de coração calejado como madeira resolve soltar a criança em seus fundos olhares ao contar sobre as moedas enterradas para o guardião da porta na árvore, guardando em seu interior o mais sublime conhecimento sobre a porta por trás de cada árvore, e sobre cada um dos que as deveriam guardar.
Eis que a dama das flores, com lembranças infantis também despertas, retoma a lembrança de uma toca onde em outrora aos possíveis duendes, pedras e flores ela iria deixar. E em um simples recordar, nenhum de pronto percebe que acordam em si mesmos a percepção de algo que talvez ali sempre o pudesse estar, e quem sabe os duendes e os guardiões de cada uma das árvores, que outrora lhes permitiram o observar, novamente despertam.
Dentre a escuridão das árvores e folhas cobertas de sombras, há um brilho repleto de silhuetas e cachos, e sob a treva da noite uma dama de ouro dança com seu vestido dourado, e o bailar de sua saia reluzente é compreendido como um convite para o vento acompanha-la nesta dança entre as árvores.

Eis que a ventania a assobiar, acompanha o ritmo do bailado da dama dourada, que entre o flutuar d’ouro, paira de tempos em tempos para observá-los. Não puderam ouvir o som que dela poderia ecoar, mas puderam reproduzir o tom que ela haveria de deixar com vozes e violão ecoando com o assobio do vento, entre as folhas da grandiosa árvore na qual de tempos em tempos a dama dourada por trás viria a se ocultar.
E prontamente,  outros caminhantes chegam ao gramado, mas a dama de flores e o lenhador hipnotizados pelo brilho dourado e flutuante se impedem de falar a respeito da dama de ouro, que ainda segue sua dança flutuante, e mesmo sem estar distante, nenhum outro caminhante teve a audácia de podê-la enxergar.
Entre o brilhar da dama e das estrelas, na virada do luar, entra o sol com a manhã,  e no despertar de outro dia só sobra a lembrança da presença tão dourada quanto o sol da manhã de uma dama flutuante entre as árvores. A dama das flores e o lenhador, em busca da dama dourada observam a ausência da árvore na qual durante a noite ela parecia se ocultar, e como as prímulas de ouro, e como o guardião de uma árvore na infância, a dama flutuante e dourada não estava a se esconder, e sim a guardar esta outra árvore, que se oculta na relva da manhã, pois de fato, tal como a fada, ela pertence a um outro lugar. 




Desperta então a vontade de reencontrar, de poder perguntar, e de pronto como as flores em sua cabeça, a dama das flores em seu desejo gritante de fugir da sua possível humanidade exclama sem falar no eco de seus pensamentos: “Oh flutuante dama dourada,  poderia além dessa árvore ocultada, uma talvez humana errante perdida em sua caminhada, poderia ela de alguma maneira encontrar, um caminho embora daqui, para além desse outro lugar?"



quinta-feira, 27 de junho de 2013

Digital

Tentando brincar de poeta digital. Experimentar outras linguagens é sempre bom, um dia aprendo mais.



NÃO

NÃO
Não se anseia
Não se cança
Não se espera
Não se lança
Não se envolve,
pois assim
Não se resolve.

SOBRE FOTOS RASGADAS DE 62



(Achei uma foto de um casal rasgada no lixo em frente a um hospital psiquiátrico de Petrópolis em 2013 e fiz um poema tentando imaginar a história por trás da foto rasgada no lixo, apaguei a foto dos desconhecidos por questões de direitos autorais desconhecidos)

Aquele casamento falso entre nós dois
o cheiro de champanhe com crianças jogando arroz
era apenas outro dia em 1962
Nas bodas arranjadas pelos pais dos dois

E ainda assim me entreguei àquela tonteria
desabrochando flores de um bouquet em romaria
e quarenta anos depois cortei lembranças deste dia
Em pranto e transe em uma sala de psiquiatria

Em uma manhã cinza e fria, onde os sabiás cantaram
De laranjeiras pairaram, como no dia em que o vi
Com seu terno, guiando cavalos, diante de carros caros
Em meio ao caos em minha mente eu nunca o esqueci

E em transe, seu doutor, me calo, e em hipnose paro
Lhe implorando de esquecer a dor, de apagar a cor,
pois na sorte de um disparo, perdido em desamparo
Em um instante ele se foi, sem adeus em desamor

E antes de acabar a consulta, me leve até a sepulta para ver o meu amor
Que em 50 anos de insulta, de casamento, dor e multa
Com charutos e fotos, ainda lembro de seu olhar sonhador

Apague-me a memória seu doutor, e jogue fora nossos anos
Desapega os meus enganos, permitindo em minha cura abandonar a dor
Sem tarjas da consulta, sem plano, sem insulta
Sem ler a própria bula, só lhe peço, seu doutor

Mesmo que eu esqueça minha bula, me permita andar na rua
Sem memórias, sem sentir sozinha, essa minha interminável dor.

SUICÍDIO MUSICAL


SUICÍDIO MUSICAL 




Só sustenindo o dó
Sem ré para seguir o par
Um gole de nota maior para acordar, e sorrir
Porém tardiamente menor a noite vem caminhar
LentaMente em rostos perdidos, com a tonalidade a cair

Rostos vagueantes sem rumo aparente
Eloquente pelo caminho de meu fim
Esperando enfim, algo que nem sei explicar
Uma dose de álcool, um cigarro, um tossir de pigarro
Uma dose de roda e realidade em engrenagem
Quem tenha a coragem necessária para me matar.

TERRENO BALDIO

TERRENO BALDIO


Sob os destroços de um terreno baldio, 
os tijolos estilhaçados se despediam do teu cheiro ao meio fio
e em adeus forçado evito aquele caminho, de memória e vinho
onde assombrada evitava o caminhar

E ao jurar, falsamente, que esqueci, retomei a rota que evitara
E em surpresa um arrepio me para, fazendo o reconstruir de um derradeiro,
Já que pelo terreno baldio inteiro, me volto a transbordar sem beira, 
pois uma casa de madeira ali é reconstruída

Como o sonho de partida, que era teu e em mim o fez,
Volto-me novamente destruída,  sentimentos em derradeira
Como lenha da lareira que queima em meu sonhar outra vez

Sigo em frente sem poder parar, me perguntando se um dia
poderia ter tudo aquilo que o mundo me faz lembrar,
pois a cada dia que creio te esquecer
o mundo me força em pedaços a te presenciar.


domingo, 23 de junho de 2013

EXPLODIR ESTRELAS

EXPLODIR ESTRELAS




Estrelas caiem queimantes, ardendo aceleradamente como passos em direção oposta
Estrelas caiem do céu em gritos agudos, em explosões de vidas entrepostas
Permitindo ouvir cada passo invisível por de trás de uma madrugada fria
Dos fantasmas infiltrados em gélidos toques que ninguém via
Rumando pelas vielas, olhando para trás em meio à rua vazia,
Sobre estrelas em braços de quem jamais me sentia
Estrelas caiem do céu sob o verso em que ali escrevia

E ao pico explosivo do brilhar de outras estrelas passeantes
Admiro a luz que cai prata sobre orvalhos verdejantes,
E sob a memória de teu olhar frio e sonhos inconstantes
Estrelas caiem sob um fio de nossos sonhos errantes,
Amantes do tempo, em segundos de teus intocáveis instantes

 Sigo a admirar o brilho de estrelas em memória do que era esquecido
Sabendo que o brilho que sigo, pode a milhares de anos ter se tornado pó
Pois a distância em anos luz cria ilusão de brilho, explodindo em poeira,
Arrancando um fio são de uma nota inteira, em um universo tocado em dó,

E sigo só, ao admirar o cair de uma estrela, que pode não existir,
Tão longínqua que ao se esvair explodiria sem mostrar-se por dentro
E em meu próprio tempo, em meu ano luz me esvaio sem poder sorrir,

pois a cada estrela que ruir, em seu brilho torpe grita explosiva que me lembro.

floyd feelings

THE GREAT GIG IN THE SKY UPON THE REVOLUTION





Revoluções evoluem em rumo ao caminho de contrariações
Em construções de miragem sobre um caminho torto
Tropando em viagem de expiações
Os passos cansados de guerra doentia, a maré que seguia um fluxo impermeável
Os passos desfigurados seguiam um fluxo circular de golpe e revolução
Os passos perdidos se encontram ao chão

E após refletir em existência, em coesa e simplória consciência
Jogo-me novamente  ao mundo em espontaneidade
Em uma mesa de bar me deixo a vontade, esquecendo um pouco da fervência
Sentindo mais da inconsciência febril de uma juventude tardia
Que grita fria finalmente por nova resistência

Sem desistência me jogo ao som, ao encontro de um brilho em outro tom
De cores e vozes indefinidas, de lábios e toques em matéria desprendida
De cigarros esvoaçantes sobre a  bondade e malícia misturada de estranhos

Em canho e canto, pelo encanto de um show que pouco lembro
Jogo-me ao realento de um novo encontro
Enquanto em pouco percebo e me atento
Que finalmente liberto em outro ponto

Em um sonho lúcido de derretimento, me desatento
Realinhando um grito anteriormente preparado e pronto
Acordo de um show no céu ouvindo os gritos a dizerem que me lembro
Lembrando de cores vívidas em ponto,  do sonho em que me atento

Eu tento, jogando no intento em que me encontro
E finalmente salto desprendida do próprio desprendimento 
E flutuando me parto e parto em humilde agradecimento
por aquele breve e marcante encontro.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

C#

BLUES EM 4 VERSOS (C#)

Um dia só, sustenindo o dó

Canto sem luz e encontro o blues
Chorando eu só apago a luz
Arrancando seu paletó.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

B

UNHAPPY GIRL ON A REPETE LOOPING



Um papo agradável sobre rock’n’roll e um filme de Georges Meliés
Um vinho, uma lareira, uma casa de madeira e outro sonho qualquer
Você com seu Dylan e eu com minha Joplin, um ré de vozes
E seu violão me envolvendo muito além do quanto quer

Um pouco de álcool, um pouco de carinho, um pouco de violência
A inquietude das árvores, as casas vazias, a sede e a insistência
Desejos dilacerados em notas de uma música que ninguém pôde ouvir
Cabelos ruivos roçam em sua barba ao me partir, e ao me reconstruir
E me prendo insolente em sua interminável desistência

Me permito um cigarro pós-fervência antes de sair
Esquecendo todo aquele antigo desejo de me destruir sem eficiência
 Vagueando sem me perder, buscando além do entardecer
Buscando n’outra madrugada perdida em seu rosto frio
Soprando dentes de leão que possam realizar um fio
Um único sorriso em seu escurecer

Perdido em um desconhecer, perdendo um desencontro em caminhada,
Pois quando o fogo chove pelo céu, ainda não vê tempo em nossa estrada
E ofende a Botticelli dando forma a uma Vênus que não nasceu
E ofende a minha carne cativando quando em pronto desapareceu
Desapareces tão de pronto quanto um dia apareceu

Garota infeliz em grave Morrison reafirma
Retornando solitária ao primeiro ponto de partida
E volto só rumando ao sul, pensando em sua mente,
pincelada levemente em um caderninho azul


ADMIRÁVEL MUNDO APRESSADO

ADMIRÁVEL MUNDO APRESSADO

Antecipadamente velha para o mundo moderno
Não sei ser austera para seguir rápido demais
Antecipadamente antiquada para voltar atrás
Por conversas vazias de bar e nada mais

Sentimentos frios sem toque e sem olhar
Desnorteada sem ver o tempo passar
Os rápidos cliques dos segundos a rodar,
Os tempos curtos correm além do meu andar

Seguindo perdido, caindo de roda à fortuna em pranto
Cansado do século 21 costurado em relâmpago
Perdido nas confusões sem nenhum…
Lugar preciso em que possa me encontrar

Estou aposentada antes da hora
Antiquada demais para o tempo de agora
Engolindo meu peito sem demora, atrasada demais para os passos
De pés que dilaceram rapidamente o chão, e nem param para enxergar

Os caídos que ficam no caminhar, derrubados em segundos de ilusão.

DOMINGO

DOMINGO

Olhos, julgamentos, facas por toda parte
Tolo é aquele que atira sem enxergar o alvo
Jorrando facas como marionetes de guerra
Guerreando em cacofonia estilhaçada

Vitrais se partem em pedraria antiga
Cansados demais para sobreviver ao tempo
Badalam os sinos enquanto em lamento
Fitam as fitas do meu caminho

A cada sombra por trás um transeunte
Poderia ser um rosto familiar, mas faltam pedaços
Perdidos pedindo, perdendo pecados
Perdendo sempre um pedaço de si

Cacofonia aflige minha apatia cegamente
Enquanto foi um prazer momentâneo de pedidos
Crianças com roupas antigas soltam gritos
“Não podem, não podem dizer”
Pequenos sentimentos acordam ao badalar os sinos

Coroinhas de pequenos turvos de solidão
Louvando ao santo cotidiano erguem a mão
Perpassando a ladainha de cura do irmão
Enquanto caminhamos sozinhos, esperando em palavras
Esperando a morte, esperando uma salvação

Esperando um Deus em um pedaço de pão

sábado, 4 de maio de 2013


SOLIDÃO E MEMÓRIAS (Pt1.) EM PETRÓPOLIS


Na solidão badalada às dezoito horas, sinos da catedral lamentam o caminhar
Casas empoeiradas com histórias longas demais para contar
Romances curtos em conversas e olhares de bar em bar
Vidas contemporâneas em um álbum antigo

A cidade de Pedro e de memórias
Descoroando imperialmente os coroados
Com ponto em porões de escravos
Aonde um dia posteriormente iriam se libertar

Vagando por vielas vazias
Observando velhas fotografias
Esperando que alguém possa lhe encontrar
De lugar a lugar, o centro é um círculo
De solidões perdidas em um cubículo
Que de cidade acostumou-se a chamar

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Cordas



CORDAS



Me amarro em cordas



Em cordas de aço
Em cordas invisíveis
Em cordas de segurança


Respirando gasolina, correndo em cordas contadas
Cordas de sapatos desamarrados
Cordas de saltos infantis
Cordas que amarram minhas verdades


Me amarro em cordas
Cordas vocais, engolidas em minha garganta
Cordas de verdades, cordas de mim
Cordas de contenção de euforia


Me amarro nessas cordas vocais
Engolindo todas as verdades que me sufocariam
Me pendurando em um edifício de cordas
De segurança falha para amarrar a mim mesma.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Refazem médios para a cura de Lou


Refazem médios para a cura de Lou


Sussurrando paredes em aceleração constante
Contando instantes, lendo estantes
Ofegando pelos corredores ela pisa na chuva
A indomável cura de nossas almas                                                                                                                                                                                   
Ela se agarra a sua prece
Enquanto o muco da alma é retirado                                                                                                           E a maca maquia o enfermo                                                                                                       Enquanto o coquetel a entorpece

Alarme toca: Retomar cura
Circular, branca impura
Primeiro Comprimido
Efeito comprido, colateral: secura
Cápsula laranja: energia empurrada
Tomar um copo d’água insone
A cura de Lou segue com fome
Conforme insaciada.
Não surte efeito, não resta nada

Trajado em tarja sem nomear cor
Enfim o último deleito
Será que surte efeito?
Não responde nada.
Alarme toca: E o efeito é morte, não teve sorte.
.Entretanto para Lou o contrário
Pois apenas em seu obituário
Não lhe resta nada, já que para Lou
Finalmente está curada

A Cura (Pt.1)


A Cura (pt. 1)



Beirando o abismo Eu busco a cura
E cismo encontrar a procura
E novamente encontrar-me
Com Lou.
De Lou
Na sala de espera vejo as cores de seu rosto que vão se desvaindo
No vão. Dançando em listras negras e vermelhas,
Entorpecem-me em fosco 
Perguntando-me se
Ainda estou
Caindo?