segunda-feira, 23 de julho de 2012

Rostos Vazios Vagam Sem Dizer Nada


ROSTOS VAZIOS VAGAM SEM DIZER NADA

Vago sozinho nesta cidade
na catedral vagam vagabundas e androgenia
Carros caros vagueiam, mas nas calçadas de uma padaria
Sem pão dorme ao chão o vagueador de avançada idade

Vaga sozinha a brisa que o faz tossir
E a insônia de pedra dura que não o deixa dormir
Sobre o jornal mais quente que seus trapos
Onde lê intrépido aos fatos
Mais gelados que sua tremente pele cansada

Sem moedas para a quente cachaça
Que sozinha aquece a morte fria
Perdida pela hipocrisia pacata
De uma sociedade que não conhece hipotermia

E ao vago alvorecer branco
Não acordo em pranto
Mas pronto:
Para partir desta vida ingrata e sem cria.


Dedico essa poesia aos moradores de rua da cidade de Petrópolis.
Fernanda Lyra

domingo, 22 de julho de 2012

GEMINI

GEMINI
Apaixonei-me pelo luto
Pelo morto dissoluto
Meu amante do invisível
Por quem clamo ser mútuo

Desencarnado me desencana da carne
Só teu espírito me afaga, e tua voz é nula
Companhia morta que nunca me chama
Mas que em pensamento me acompanha


Doce geminiano, não houve luto familiar
No outro mundo não se pôs a chorar
Pois sem conhecer-te sinto-me perto
E em tua memória me desperto, o chamo

Sem saber teu nome, sem saber tua lápide
Sem olhar teu físico, sem tua memória
A ti conheço mas que os vivos
Só pelos teus livros, só pelo teu grito

Apaixonei-me pelo morto de alma similar a minha


Ora doce e voraz, ora daninha
Em nosso espectral encontro o amei de pronto, 


Mais do que a própria vida que tinha.



SUJEIRA



SUJEIRA

Como a solas de sapatos abaixo das pessoas 

Eu sinto passos desfigurarem o chão

Sou o nada em seus pés
Sou seus calos e o pulsar do seu coração 


Sou o rosto de políticos nos panfletos 

O chiclete pisado no asfalto 
A goma que cospem no solo 
Sou a vida morta com que cria teus fatos 


A destruição que clama por paz

Sou o ódio em teus olhos
Sou a faixa de gaza que se faz


Sem eira nem beira

Eu sou a poeira 
Sou teu lixo e tua sujeira

Desconstrução/Detrospecto/Destrospectiva/D

Desconstrução/Detrospecto/Destrospectiva/D

Desde

Deste D dedico
De desejos dilacerados
De dias doces, de dúzias de desejos
Docemente degustados, dos desangustiados
Das dores. Dos dias desanimados, dos desalentos,
Das derrotas, das desistências, de dúvidas, desamores, 
Dos doces denegados,duelos desafiados, doenças 
Desacelerados, desalmados.
Desde Doze de Dezembro
Desde dez das doze
Desde 2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dores de Garganta


DORES DE GARGANTA
Cansei de sentir dores de garganta
Cansei de engolir a doença em hiatos 
Descendo e dilacerando em putrefatos cacos
Corroendo meu corpo podre, me deixando em trapos
Aliviando toda minha temperança.

Cansei de sentir dores de garganta
De engolir verdades vomitadas
De engolir carícias forçadas
Engolindo todo o pus de mentira, estuprada
Cansei de engolir toda podridão contada.
Em sacos de esperança

Cansei de sentir dores de garganta
Sem mel ou fel para aliviar a culpa
Cansei da insulta, repudiada, e em falta. 

No entanto:
Cansei de sentir dores de garganta.
Pois em pranto grito aliviada.