(Achei uma foto de um casal rasgada no lixo em frente a um hospital psiquiátrico de Petrópolis em 2013 e fiz um poema tentando imaginar a história por trás da foto rasgada no lixo, apaguei a foto dos desconhecidos por questões de direitos autorais desconhecidos)
Aquele casamento falso entre nós dois
o cheiro de champanhe com crianças jogando arroz
era apenas outro dia em 1962
Nas bodas arranjadas pelos pais dos dois
E ainda assim me entreguei àquela tonteria
desabrochando flores de um bouquet em romaria
e quarenta anos depois cortei lembranças deste dia
Em pranto e transe em uma sala de psiquiatria
Em uma manhã cinza e fria, onde os sabiás cantaram
De laranjeiras pairaram, como no dia em que o vi
Com seu terno, guiando cavalos, diante de carros caros
Em meio ao caos em minha mente eu nunca o esqueci
E em transe, seu doutor, me calo, e em hipnose paro
Lhe implorando de esquecer a dor, de apagar a cor,
pois na sorte de um disparo, perdido em desamparo
Em um instante ele se foi, sem adeus em desamor
E antes de acabar a consulta, me leve até a sepulta para ver o meu amor
Que em 50 anos de insulta, de casamento, dor e multa
Com charutos e fotos, ainda lembro de seu olhar sonhador
Apague-me a memória seu doutor, e jogue fora nossos anos
Desapega os meus enganos, permitindo em minha cura abandonar a dor
Sem tarjas da consulta, sem plano, sem insulta
Sem ler a própria bula, só lhe peço, seu doutor
Mesmo que eu esqueça minha bula, me permita andar na rua
Sem memórias, sem sentir sozinha, essa minha interminável dor.
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